Renato Russo, Platão e Orfeu


No livro História da Filosofia Ocidental: livro primeiro de Bertrand Russell (não confundir com Edmund Husserl, pai da Fenomenologia) (apesar desta não ser uma comparação tão estranha segundo Nikolay Milkov), ele faz referência à inscrição órfica da tábua de Petélia, nela há direções para que a alma da pessoa morta encontre o seu caminho no outro mundo:

Encontrarás à esquerda da Casa de Hades, uma fonte,
E, a seu lado, um branco cipreste.
Não te aproximes dêsse manancial.
Mas encontrarás um outro junto ao Lago da Memória,
De onde fluem águas frescas e, diante do qual, há guardiães.
Diz-lhes: “Sou um filho da terra e do céu estrelado;
Mas minha raça é do céu (sòmente). Vós próprios o sabeis.
E – ai de mim! – estou ressequido de sêde, e pereço. Dai-me
[ràpidamente
A água fresca que flui do Lago da Memória”.
E êles mesmos te darão de beber do manancial sagrado,
E, desde então, tu dominarás entre os outros heróis…
(RUSSELL, 1957, p. 22)

Essa inscrição órfica está relacionada ao Orfismo, um conjunto de crenças e práticas religiosas atribuídas ao poeta Orfeu, que desceu ao submundo e retornou. Platão foi influenciado pelos ritos órficos, o que pode ser observado no Mito de Er, publicado em A República, ao falar sobre a escatologia (final do mundo / pós-morte) (não é escatologia referente à fezes), a qual acabou servindo para estabelecer uma conduta moral baseada em castigos e recompensas após a morte.

Na letra da música A Fonte de Renato Russo encontramos os versos:
[…]
Ao lado do cipreste branco
À esquerda da entrada do inferno
Está a fonte do esquecimento
Vou mais além,não bebo dessa água
Chego ao lago da memória
Que tem água pura e fresca
E digo aos guardiões da entrada
“Sou filho da Terra e do Céu”
[…]

Pode-se perceber que o trecho da música é uma clara referência à tábua de Petélia, do culto à Orfeu, com as suas instruções do pós-morte, divulgadas por Platão pela sua crença na reencarnação.

RUSSELL, Bertrand. História da Filosofia Ocidental: livro primeiro. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1957.

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